ORAÇÃO DE I.N. (1933)

Meu Deus, para que puseste tantas almas num só corpo?
Neste corpo neutro que não representa nada do que sou,
Neste corpo que não me permite ser anjo nem demônio. Neste corpo que gasta todas as minhas forças
Para tentar viver sem ridículo tudo que sou.
— Já estou cansado de tantas transformações inúteis.
Não tenho sido na vida senão um grande ator sem vocação,
Ator desconhecido, sem palco, sem cenários e sem palmas.
— Não vedes, meu Deus, que assim me torno às vezes irreconhecível
À minha própria mulher e a meus filhos,
A meus raros amigos e a mim mesmo?
— Ó Deus estranho e misterioso, que só agora compreendo!
Dai-me, como vós tendes, o poder de criar corpos para as minhas almas
Ou levai-me deste mundo, que já estou exausto,
Eu que fui feito à vossa imagem e semelhança.
Amém!

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